quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SACANAGEM NOS TEMPOS DO IMPÉRIO


O imperador D. Pedro I foi o maior fanfarrão da nossa história, uma espécie de Romario das efemérides da pátria. Foi também, é justo que se diga, um espada de primeiríssima categoria, honra e glória da estirpe dos varões assinalados.


Até as paredes do museu imperial de Petrópolis sabem dos sete anos em que nosso imperador frequentou os lençóis de Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos. O Diabão, apelido que o portuga usava nas cartas pornográficas que trocava com a amante (e dentro dos envelopes D. Pedro gostava de mandar alguns pentelhos, como prova comovente de amor), era um despudorado. Nunca se preocupou em esconder suas traquinagens com a marquesa. A imperatriz Leopoldina, pobre coitada, foi a corna mais explícita da história do Brasil. É a padroeira da cornitude nacional.


O que poucos sabem é que D. Pedro foi também insaciável amante de Maria Benedita de Canto e Melo. Quem era essa? A irmã mais velha de Domitila, com fama de distinta senhora e casada com um certo Boaventura Delfim Pereira. Com a irmã da marquesa, o imperador teve, pelo menos, um filho bastardo.


Nessa sacanagem toda , me comove o apreço que o imperador demonstrou ter pela família das irmãs Canto e Melo. Mostrou-se um homem digno e ciente de suas responsabilidades, saiu distribuindo títulos de nobreza e empregou todo mundo.


O corno Boaventura, por exemplo, foi nomeado superintendente da Fazenda de Santa Cruz, tornando-se amigo íntimo do imperador. Foi nomeado depois para a superintendência das quintas e fazendas imperiais, quando recebeu o título de barão de Sorocaba.


Além dele, os pais da marquesa de Santos viraram viscondes de Castro, fora uns quarenta irmãos, cunhados, sobrinhos e amigos da marquesa que receberam títulos de barões, viscondes, guarda-roupas, gentis-homens e moços da câmara imperial, todos devidamente contemplados com generosos vencimentos pagos pelo erário público do Império.
(Aliás, permitam-me uma pausa. O que seriam os "moços da câmara imperial" ? Eu, pelo menos, imagino uns viadinhos vestidos com todas as pompas, preparados para dar e receber os benefícios daqueles senadores e ministros balofos do Império. Uma espécie de guarda-suiça da boiolice nacional. O ACM Neto, por exemplo, seria um dos moços da câmara imperial, com toda a certeza. )


Um caso famoso foi o do jovem Alaor Moreno Canto e Melo, sobrinho da marquesa, que aos sete meses de idade foi elevado ao posto de gentil-homem do Império e nomeado administrador de erário da Quinta da Boa-Vista. O cargo, de grande responsabilidade, certamente foi honrado pelo desempenho reto e audacioso do mais novo funcionário público do reino, ainda em fraldas. O salário do pequenino administrador era uma fábula.


O imperador, pelo menos, era explícito em seus desvarios e safadezas com a mulherada. Hoje impera na vida pública o mais deslavado cinismo, camuflado em supostas liturgias do cargo. O que tem de chefe de família exemplar e temente a Deus aprontando na encolha não está no gibi.


Já imaginaram, nos dias atuais, uma devassa na vida dos homens públicos brasileiros que se baseasse numa única questão : - quantas amantes, concubinas e respectivos parentes estão empregados em gabinetes ministeriais, gabinetes legislativos, tribunais de justiça e outros orgãos do tipo, como funcionários nomeados?
E aqueles deputados, senadores e juízes com cabelos vergonhosamente pintados, mais negros que as asas da graúna? Uns caras que só de olhar você vê que gostam de queimar a rosca, cheios de acessores que seriam, nos tempos do rei, os moços da câmara imperial. Quem são os funcionários nomeados por essa gente? Ia ser um pega-pra-capar dos bons.


É, queridos, D. Pedro I fez escola por essas bandas. Com muito mais estilo, é verdade. E o que deve ter de marquesa de Santos e moços da câmara imperial deitando e rolando nas esferas do poder... Deixa quieto

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